sexta-feira, 25 de maio de 2012

DIVAGAÇÕES SOBRE O PERDÃO



Vagando no universo, completamente perdido, abre algumas feridas antigas. Penso em coisas fúteis das quais nunca fui capaz de perdoar, desde atrasos corriqueiros de meus pais para me buscar na escola até a garota que meu irmão roubou de mim na oitava série.

O perdão é uma coisa engraçada, pensando profundamente agora acho que ele nem sequer existe, é uma desculpa que a gente cria na nossa cabeça pra podermos seguir em frente com nossas vidas.

Mesmo agora perto da morte gostaria de poder dar um belo de um murro na cara do meu irmão, daqueles que arrancam um par de dentes, devia ter feito isto naquela época.

“Nem sequer lembro o nome da garota”

O perdão é uma maneira de mentirmos para nós mesmos e ficarmos bem perante as outras pessoas.

“É lógico que você se lembra do nome dela”

De que adianta mentirmos para nós mesmos? É uma das coisas mais idiotas que os seres humanos fazem.

“Silvana, Silvana, Silvana!”

Acabamos acreditando em nossas próprias mentiras e nos tornamos pessoas moldadas por nós mesmos. Pessoas que no fundo são outras pessoas, nem piores nem melhores, apenas diferentes da nossa essência.

Gostaria de poder me perdoar por não ter sido rápido o suficiente em prender o cabo de segurança, não precisava morrer assim, vagando pelo universo enquanto meu tanque de oxigênio esvazia aos poucos, começo a ter uns espamos, meu corpo treme a cada cinco minutos, é uma maneira de meu cérebro tentar enganar o resto de mim de que tudo vai ficar bem, de que isto não está realmente acontecendo.

“Olhe bem para tudo” – eu penso, sem emitir nenhum som – “Se mantenha são a todo o momento, não perca nada, estes pensamentos que passam pela sua cabeça representam o que você é... O que você foi.”

Olhando para o buraco negro do meu coração percebo que não fui capaz de perdoar, mas diferente do amor, o perdão não faz tanta falta assim no final de tudo.

É difícil pensar em perdão e ignorar a visão de Jesus Cristo que vem na cabeça quando fecho os olhos, mesmo eu que nunca fui religioso acabo caindo neste clichê, achei que seria diferente de todo mundo, mas no fim somos todos iguais. Não importa se está em uma cama de hospital enfermo ou tendo o seu corpo deslocado entre as estrelas, esta coisa religiosa parece grudar em nós como um carrapato, tento pensar em outras coisas e pela primeira vez ouço a minha voz dentro do meu claustrofóbico capacete:

- Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome...

Gustavo Campello

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