Vitor não
entendia essa coisa de lutar até o fim, pessoas com a capacidade de não
desistir nunca. Se ele contraísse um câncer ou algum problema cardíaco – Queria
que tudo mais fosse pro Inferno – não ia ficar indo em hospitais fazendo
quimioterapia ou arrancando o coração para colocarem outro no lugar.
Vitor era
o típico cara sem problema nenhum em desistir, achava até honrado isso, não
tinha medo de morrer e não achava que a vida era assim tão legal para lutar por
ela até o último suspiro.
- A vida
que se foda – dizia ele para Sam, o seu cachorro.
O animal
devolvia um grunhido que Vitor tomava como uma concordância, pois ele só
contrariava o dono quando soltava um barulho mais agudo.
Não tinha
dó de pessoas com câncer que passavam a vida lutando com tudo o que tinha,
achava até bonito, mas não dó. Se a pessoa tinha problema em entregar os
pontos, problema dela, ele não via a coisa dessa forma.
Algumas
guerras se ganham, outras se perdem. Achava muito mais válido tentar fazer as
coisas que queria e se não desse... Paciência, não se pode fazer tudo afinal de
contas, já tinha na cabeça que não ia conhecer o Taj Mahal ou o túmulo do John Wayne, mesmo porque
conhecer o túmulo do velho cowboy não
devia ter graça nenhuma.
Tinha
poucas coisas que Vitor almejava, talvez por isso conseguia ver a vida sem
muito apego. Suas metas eram simples naquele momento. Queria beber vodka na
Rússia, beber cerveja na Irlanda, beber run em Cuba, tequila no México e
publicar uns três livros em vida... Vinho na Itália ele já tinha tomado.
Champanhe na França ele não fazia questão porque não gostava da bebida e gin na
Inglaterra também não porque não gostava do país. Outra coisa que não constava
no seu Álcool Tour era whiskey na Escócia porque só gostava de Bourbon.
Nem
transar com a Luciana
Vendramini constava mais em suas
prioridades, gostaria muito, mas se era o destino passar por esta vida sem este
privilégio... Paciência.
Tinha até
medo de ler todos os livros do Hemingway,
depois que acabasse ia restar um sentimento de vazio maior ainda. O vazio
preenchia cada vez mais a vida dele, parece que a cada dia algo se perde, algo
fica sem sentido, como se sua própria humanidade fosse perdida, queria virar um
peixe e nadar em seu aquário, ao invés de água podiam colocar Velho Barreiro, ia engasgar aos
poucos, a garganta queimando, os olhos ardendo e vermelhos, vendo o mundo
escurecer aos poucos através dos quatro vidros a sua volta.
Queria
desistir agora, mas ainda tinha tanta coisa a ser feita, queria apressar as
coisas o mais rápido possível, mas agora não podia.
Gustavo
Campello
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