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Escrever é bem foda, me destrói as vezes – Vitor disse para si mesmo.
Era três
e meia da manhã, Vitor estava escrevendo dois contos, um sobre as baleias no
mercado de trabalho e outro sobre ódio, fora o livro que precisava se manter
bêbado pra escrever. Entrou no Facebook e viu que sua filha estava on-line.
- O que
diabos você está fazendo acordada a esta hora, Bianca? – escreveu ele nervoso.
- Dormi
da uma até as seis e meia da tarde – respondeu ela.
Que tipo
de autoridade tinha sobre ela? Parecia-se cada vez mais com ele, iria trocar os
dias pela noite também? Lembrou-se de quando tinha a sua idade e dormia bem
tarde também, nas noites de frio, com dó do seu cachorro, ficava acordado pra
ele poder ficar aquecido dentro de casa, quando amanhecia colocava-o para fora
e ia dormir.
- Mas se
continuar acordada não vai conseguir prestar atenção na aula amanhã – foi
incisivo, tentou manter uma postura de pai.
- Amanhã
não tenho prova – disse ela – hoje fiz a de matemática e acho que consegui
tirar mais que dois.
E agora?
Ele devia dizer parabéns ou dizer que ela precisava estudar mais? Na ultima vez
que há viu ela havia tirado meio em matemática, tinha dificuldade nesta
disciplina, assim como ele havia tido ao longo dos anos escolares.
-
Parabéns – resolveu dizer ele – Vamos ver se consegue tirar cinco até o final
do ano.
Vitor
abriu mais uma garrafa de cerveja e conversou com seu amigo Adamastor pela
internet também.
Nada do
que estava escrevendo ia para frente. Sua filha resolveu ir tentar dormir e
Adamastor deve ter ido bater uma olhando fotos de alguma amiga de infância que
tinha adicionado no Facebook recentemente. Sentiu-se sozinho.
Tinha
acabado de assistir Glória
Feita de Sangue do Kubrick e estava empacado no meio do livro E o Sol Também se Levanta do Hemingway.
Estava sendo uma madrugada estranha. Não queria ir trabalhar no clube amanhã.
Resolveu ir até o pronto socorro e inventar uma caganeira para pegar um
atestado médico.
A cerveja
havia acabado.
- Droga!
Não havia
nenhum lugar aberto para se comprar cerveja por ali. Ficou olhando o aquário,
pensou em quem não devia, seu coração se apertou e tomou um gole de vodka.
Lembrou-se que havia duas calças jeans na maquina de lavar úmidas.
“Que
apodreçam lá dentro” – pensou.
John
Wayne havia lhe
dito "Tente não se
culpar, pode acontecer com todos os homens. Bons ou maus. A mulher lança um
arpão em você e você vai aonde ela o puxa." quando ele assistiu A Lenda dos Desaparecidos.
Tentava se ater a este sentimento, tentava parar de sentir culpa.
Fumou um
cigarro, bebeu um gin, olhou a Poderosa em uma revista antiga da Liga da Justiça Europa, bateu
uma, deitou no chão e dormiu.
Gustavo
Campello
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