quinta-feira, 15 de setembro de 2011

UMA MADRUGADA QUALQUER



- Escrever é bem foda, me destrói as vezes – Vitor disse para si mesmo.

Era três e meia da manhã, Vitor estava escrevendo dois contos, um sobre as baleias no mercado de trabalho e outro sobre ódio, fora o livro que precisava se manter bêbado pra escrever. Entrou no Facebook e viu que sua filha estava on-line.

- O que diabos você está fazendo acordada a esta hora, Bianca? – escreveu ele nervoso.

- Dormi da uma até as seis e meia da tarde – respondeu ela.

Que tipo de autoridade tinha sobre ela? Parecia-se cada vez mais com ele, iria trocar os dias pela noite também? Lembrou-se de quando tinha a sua idade e dormia bem tarde também, nas noites de frio, com dó do seu cachorro, ficava acordado pra ele poder ficar aquecido dentro de casa, quando amanhecia colocava-o para fora e ia dormir.

- Mas se continuar acordada não vai conseguir prestar atenção na aula amanhã – foi incisivo, tentou manter uma postura de pai.

- Amanhã não tenho prova – disse ela – hoje fiz a de matemática e acho que consegui tirar mais que dois.

E agora? Ele devia dizer parabéns ou dizer que ela precisava estudar mais? Na ultima vez que há viu ela havia tirado meio em matemática, tinha dificuldade nesta disciplina, assim como ele havia tido ao longo dos anos escolares.

- Parabéns – resolveu dizer ele – Vamos ver se consegue tirar cinco até o final do ano.

Vitor abriu mais uma garrafa de cerveja e conversou com seu amigo Adamastor pela internet também.

Nada do que estava escrevendo ia para frente. Sua filha resolveu ir tentar dormir e Adamastor deve ter ido bater uma olhando fotos de alguma amiga de infância que tinha adicionado no Facebook recentemente. Sentiu-se sozinho.

Tinha acabado de assistir Glória Feita de Sangue do Kubrick e estava empacado no meio do livro E o Sol Também se Levanta do Hemingway. Estava sendo uma madrugada estranha. Não queria ir trabalhar no clube amanhã. Resolveu ir até o pronto socorro e inventar uma caganeira para pegar um atestado médico.

A cerveja havia acabado.

- Droga!

Não havia nenhum lugar aberto para se comprar cerveja por ali. Ficou olhando o aquário, pensou em quem não devia, seu coração se apertou e tomou um gole de vodka. Lembrou-se que havia duas calças jeans na maquina de lavar úmidas.

“Que apodreçam lá dentro” – pensou.

John Wayne havia lhe dito "Tente não se culpar, pode acontecer com todos os homens. Bons ou maus. A mulher lança um arpão em você e você vai aonde ela o puxa." quando ele assistiu A Lenda dos Desaparecidos. Tentava se ater a este sentimento, tentava parar de sentir culpa.

Fumou um cigarro, bebeu um gin, olhou a Poderosa em uma revista antiga da Liga da Justiça Europa, bateu uma, deitou no chão e dormiu.

Gustavo Campello

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