Vitor foi
conversar com um editor que estava analisando suas crônicas para uma possível
publicação.
- Bem, as
crônicas são interessantes – a sobrancelha dele se levantou e Vitor ficou
esperando pelo “mas...” – mas me parece que elas são todas meio iguais.
- Iguais?
- Isso, o
personagem sempre bebe alguma coisa, fica bêbado e faz alguma merda se lamuriando.
- Talvez
porque ele seja um alcoólatra depressivo – disse Vitor defendendo sua obra.
- Certo,
certo... Mas talvez se tivesse alguma coisa mais eletrizante, mais
empolgante...
“Quem
diabos é esse cara?” – pensou Vitor – “mais eletrizante? O que diabos ele acha
que eu escrevo? Roteiro pra Hollywood?”
- Olha
cara – Vitor estava juntando os seus papéis já – eu escrevo sobre a vida real,
as vezes ela é um porre, mas é assim que é.
- Bem,
não precisa ir saindo, talvez possamos...
- Escuta
aqui – Vitor já estava irritado, precisava tomar um trago e o sujeito tinha
conquistado sua antipatia – quando eu tiver algo mais “eletrizante” eu procuro
você.
- Certo,
certo...
Vitor
saiu pela porta a procura do primeiro bar que aparecesse na sua frente. Ele
gostava do que escrevia, as pessoas pareciam gostar também, ou fingiam muito
bem. Não ligava se ele era um grande clichê da literatura, não ligava se não
conseguia escrever nada “eletrizante”, não ligava se ninguém fosse publicar sua
obra. O importante era continuar escrevendo, não sabia também porque isso era
importante, mas era a única coisa que fazia sentido na sua vida. Se ele não
pudesse escrever, então preferia estar morto, sua vida não valeria mais nada.
Pensou
que gostava muito de escrever alguns contos de ficção científica, mas até esses
não tinham nenhum tipo de ação eletrizante, eram parados como se você estivesse
assistindo Stalker ou Solaris,
o importante era a mensagem e não personagens atirando um no outro.
Sentou-se
no bar.
- O que
vai ser? – perguntou o cara do balcão.
- Ah, que
se foda o clichê – falou ele – vê uma cerveja!
Então
quatro sujeitos entraram no bar e renderam todo mundo com armas em mãos – Quero
a carteira de todo mundo – disse um deles.
- Estamos
num boteco – disse Vitor – isto não vai funcionar...
Gustavo
Campello
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