domingo, 18 de setembro de 2011

UMA CRÔNICA COM AÇÃO ELETRIZANTE



Vitor foi conversar com um editor que estava analisando suas crônicas para uma possível publicação.

- Bem, as crônicas são interessantes – a sobrancelha dele se levantou e Vitor ficou esperando pelo “mas...” – mas me parece que elas são todas meio iguais.

- Iguais?

- Isso, o personagem sempre bebe alguma coisa, fica bêbado e faz alguma merda se lamuriando.

- Talvez porque ele seja um alcoólatra depressivo – disse Vitor defendendo sua obra.

- Certo, certo... Mas talvez se tivesse alguma coisa mais eletrizante, mais empolgante...

“Quem diabos é esse cara?” – pensou Vitor – “mais eletrizante? O que diabos ele acha que eu escrevo? Roteiro pra Hollywood?”

- Olha cara – Vitor estava juntando os seus papéis já – eu escrevo sobre a vida real, as vezes ela é um porre, mas é assim que é.

- Bem, não precisa ir saindo, talvez possamos...

- Escuta aqui – Vitor já estava irritado, precisava tomar um trago e o sujeito tinha conquistado sua antipatia – quando eu tiver algo mais “eletrizante” eu procuro você.

- Certo, certo...

Vitor saiu pela porta a procura do primeiro bar que aparecesse na sua frente. Ele gostava do que escrevia, as pessoas pareciam gostar também, ou fingiam muito bem. Não ligava se ele era um grande clichê da literatura, não ligava se não conseguia escrever nada “eletrizante”, não ligava se ninguém fosse publicar sua obra. O importante era continuar escrevendo, não sabia também porque isso era importante, mas era a única coisa que fazia sentido na sua vida. Se ele não pudesse escrever, então preferia estar morto, sua vida não valeria mais nada.

Pensou que gostava muito de escrever alguns contos de ficção científica, mas até esses não tinham nenhum tipo de ação eletrizante, eram parados como se você estivesse assistindo Stalker ou Solaris, o importante era a mensagem e não personagens atirando um no outro.

Sentou-se no bar.

- O que vai ser? – perguntou o cara do balcão.

- Ah, que se foda o clichê – falou ele – vê uma cerveja!

Então quatro sujeitos entraram no bar e renderam todo mundo com armas em mãos – Quero a carteira de todo mundo – disse um deles.

- Estamos num boteco – disse Vitor – isto não vai funcionar...

Gustavo Campello

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