No
aquário de Vitor havia três neons negros, mas um era diferente dos outros dois.
- Cansado
desta vida – dizia ele – não agüento mais.
Os outros
dois nem davam bola, já haviam se habituado as reclamações dele e sem saberem
acabavam deixando-o mais deprimido, sentindo-se sem amigos, sem ninguém para
poder contar as coisas, completamente sozinho.
Um dia o
pobre peixe pulou do aquário para encontrar a morte, porém Vitor viu e
rapidamente o devolveu a água. Os outros dois peixes perceberam que a situação
era pior do que imaginavam, mas daquele dia em diante o peixe nunca mais ficou
deprimido, achou o que faltava na sua vida, seu objetivo, seu destino, virou um
peixe saltador. Amava saltar, mais do que qualquer outra coisa, sabia que era
um esporte de risco, mas a adrenalina é o que contava. Pulava para cima, pulava
para os lados e às vezes acabava caindo fora do aquário, mas sempre contava com
Vitor para devolvê-lo em tempo de sobreviver. Uma vez o pobre peixe teve que
esperar Vitor tomar um banho inteiro até ser resgatado.
Um dia
ele se preparou para quebrar todas as barreiras do impossível, bater o seu
maior Record. Pulou do aquário com toda a velocidade que conseguiu obter, caiu
perto da cadeira de balanço atingindo a incrível marca de um metro e três
centímetros de distância. Seus outros amigos neons negros, os matogrossos e os
neons normais que viviam no aquário deram aplausos, se agitaram e homenagearam
o amigo com uma tremenda festa quando ele voltou arfando para o aquário pelas
mãos de Vitor. Havia se estatelado, mas logo estaria pronto para mais saltos.
Vitor não
sabia mais o que fazer com aquele peixe, pensou em tampar o aquário, mas sorte
que não o fez para desespero do peixinho.
Uma noite
ele estava pulando de um lado para o outro do aquário para treinar quem sabe
uma nova marca, mas um descuido de calculo acabou fazendo com que ele caísse
atrás do aquário, Vitor já estava dormindo, o peixe sabia que aquele seria o
seu ultimo salto, deu o seu último suspiro e se alegrou com a lembrança de cada
uma das vezes que saiu da água indo ao encontro a velocidade.
No dia
seguinte Vitor sentiu falta de um peixe, olhou atrás do aquário e encontrou seu
peixe seco e com um sorriso imperceptível.
Gustavo
Campello
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