O cara da
TV diz: “Mais vandalismos marcam o dia na Inglaterra”.
- Yeah!
- Está
louco? – diz o pai de Vitor – Acha isto bonito?
- Acho! –
diz ele – as mudanças tem que acontecer de alguma forma.
- Eles
estão destruindo patrimônio privado!
- Eles
estão começando por algum lugar!
- Você
está louco!
- Você
está pensando exatamente como a mídia quer que você pense.
- Do que
você está falando?
- Toda
grande mudança no mundo começou com uma onda de violência, desde a extinção dos cro-magnons pelos homo-sapiens. Está na hora do capitalismo cair.
- Você
acha que este bando de delinqüentes incendiando lojas é o caminho?
- Isto é
só o começo! – Vitor percebeu que seu pai não iria aceitar sua maneira de
pensar, mas continuou a pensar mesmo assim – quando o capitalismo cair,
provavelmente ninguém vai se lembrar deste bando de delinqüentes que começaram
isto, ninguém vai lembrar exatamente como tudo começou, mas se até o império
romano ou Alexandria caiu, bem... é muito óbvio que o capitalismo também vai e
na minha opinião isto não vai demorar pra acontecer.
- E o que
você sugere que estes caras que estão botando fogo em tudo façam?
- Que
comecem a queimar bancos, as instituições financeiras são os grandes vírus que
nos consomem diariamente. Quando estes banqueiros caírem, estaremos livres.
-
Estaremos falidos!
Seu pai
não conseguia ver o futuro que Vitor vislumbrava. E daí que os países de terceiro
mundo fossem passar fome? E daí que fosse preciso que milhões morressem com a
mudança? E daí que houvesse sofrimento? Tudo isto já existia, alguma coisa precisava
mudar exatamente pra que essas coisas parassem.
Vitor
apoiava a subversão. Vitor apoiava o fogo que queimava bem lentamente o tipo de
mundo em que ele vivia e coexistia com seres que ele desprezava que não davam a
mínima para o que acontecia a sua volta. Vitor queria que o mundo todo pegasse
fogo com todas as pessoas que ouviam e acreditavam no que a mídia dizia. Ele
realmente queria que a Inglaterra fosse para o inferno e que ela fosse só a
primeira.
Gustavo
Campello
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