quinta-feira, 21 de julho de 2011

PRESENTE



Vitor saiu do trabalho mais cedo e foi pra São José do Rio Pardo visitar sua filha. A viagem era de três horas e o ônibus ainda fazia uma parada no meio do caminho pras pessoas poderem ir ao banheiro. Fazia quatro anos que ele não viajava até lá, era sempre ela que vinha para sua cidade. Seus pensamentos ficaram presos ao passado, de sua pseudo-vida em família que parecia funcionar muito bem para ele. Lembrou-se de quando ela era apenas uma garotinha e não uma adolescente beirando aos quatorze anos.

Lembrou-se de como o caminho era bonito de dia, mas agora a noite não dava para enxergar nada da paisagem. Sentiu-se melancólico.

Chegando à cidade Vitor errou o ponto e desceu no posto de gasolina errado, foi andando cerca de um quilometro e meio até o posto que devia ter descido, no caminho foi sentindo o ar da cidade, era um ar limpo, com cheiro de mato e lá no fundo podia sentir um esterco de vaca que dava um aroma delicioso a cada respirada, encheu os peitos e foi andando com as forças renovadas. Ele achou que ia se sentir estranho chegando à cidade, mas não foi ruim como imaginava, recordações passavam a mil pelo seu cérebro, mas podia lidar com elas.

Chegando ao posto encontrou Bianca, sua princesa, esperando por ele. Estava sempre maior do que da ultima vez.

- E sua mãe? – perguntou ele.

- Vai trabalhar até tarde de madrugada.

Elize trabalhava que nem uma louca na única grande empresa da cidade, ganhava um dinheirão, por isso Vitor não tinha que se preocupar em mandar pensão, na verdade era ele que precisava de uma. Chegando à casa nova onde elas moravam viu um porta-retrato onde tinha uma foto dele com a filha, seus olhos lacrimejaram e pensou que talvez tivessem colocado a foto ali porque sabiam que ele vinha. Depois quando ela não estava olhando percebeu que o porta-retrato continha bastante pó, portando sua foto deveria ficar ali mesmo.

No quarto dela, continha algumas lembranças do passado, todos os presentes que ele havia comprado ainda deviam estar ali, mas em destaque, em uma caixa cor de rosa, havia os mais de quarenta gibis que Vitor escrevia e desenhava para ela quando ainda era uma criança, onde contava as aventuras da Senhorita Cor de Rosa, uma super heroína que nada mais era que o alter ego de sua filha que lutava com uma pizza monstro, um mandruvá gigante e um vampiro idiota. Leu todos os números e se surpreendeu de como ainda os achava engraçados.

- Não sabia que ainda guardava isso – disse ele sobre os gibis.

- São top!

Agora era assim, cheia de gírias. “Que top!” significava que o negócio era legal demais, “Que paia!” significava que o negócio era chato demais.

Passou a noite inteira ensinando matemática para ela, mas percebeu que muita coisa nem ele conseguia fazer, não se lembrava ou nunca tinha aprendido mesmo. Fazia economia na faculdade, mas nem sequer tinha noção de algumas coisas básicas.

Ela foi dormir e Elize chegou tarde, ficaram conversando até tarde da noite sobre os velhos tempos como velhos amigos. Sentiu-se bem e dormiu em uma cama que era menor do que a metade da sua. No dia seguinte tentou acordar Bianca de qualquer jeito, Elize já havia saído para trabalhar, fingiu que a casa estava pegando fogo, jogou o cachorro para lamber sua cara, tirou-lhe as cobertas, mas a menina nem se mexia, tinha um sono de pedra.

Almoçaram juntos, se despediram e Vitor voltou para sua vidinha naquele mesmo dia.

Gustavo Campello

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