Vitor
olhou para o lado e viu que havia uma outra cabeça igual a sua grudada em seu
corpo do lado esquerdo, podia movimentar apenas o braço direito e deduziu
rapidamente que a outra cabeça podia controlar o “seu” braço esquerdo.
Um
sentimento de nojo do próprio corpo deformado e um desespero de estar grudado a
outra pessoa tomou conta de Vitor, ficou horrorizado com o que estava
acontecendo com ele. Tentou dar um murro na outra cabeça que parecia também
estar horrorizada com a situação.
Recebeu
um tapa na cara da outra cabeça.
- Pare de
tentar me socar – ela disse para Vitor – eu não gosto desta situação tanto
quanto você.
Vitor foi
arrastando sua perna direita, a única que controlava agora, até a geladeira e
pegou uma cerveja com sua mão direita. Rapidamente a mão esquerda foi pegar
outra latinha e levou uma pancada.
- Esta
cerveja é minha seu filho da puta!
- Sua o
caralho, eu comprei também!
Vitor
apoiou a latinha na pia e abriu apenas com uma mão, deu um gole e começou a
pensar o que diabos poderia estar acontecendo. Nada daquilo fazia sentido,
sentia medo, um arrepio percorria toda a sua espinha que agora bifurcava em
dois pescoços.
A mão
esquerda roubou sua latinha e a outra cabeça deu uma golada. Aquilo foi a gota
d’água para ele. Deu um soco na outra cabeça e recebeu outro em troca,
começaram uma briga sem precedentes, uma cabeça começou a empurrar a outra cada
vez com mais força, cada vez com mais raiva, seu corpo começou a rasgar em
dois, a coluna vertebral começou a se dividir cada vez mais, órgãos começaram a
cair no chão e o desespero e o nojo eram cada vez maiores. Vitor sentia vontade
de chorar, de gritar e de morrer rápido. Sentir a dor dos órgãos e a
viscosidade do sangue eram demais para ele.
Vitor
acordou na sua cama depois de ter o pior pesadelo de sua vida, um suor gelado
escorria por todo o seu corpo, tinha dormido pouco, mas achou melhor ficar no
computador acordado, estava com medo de voltar a dormir.
Gustavo
Campello