terça-feira, 27 de julho de 2010

O BAR DA CIDADE



Aquele era o bar da cidade, não que fosse o único, mesmo porque não era uma cidade pequena, mas toda a cidade já passou por ali, lógico que tinha os freqüentadores assíduos, como também tinha os freqüentadores eventuais, este último era o caso de Vitor Scaglia, não freqüentava mais bares como antigamente, aquele nunca fora o seu bar, mas estava ali com a namorada, sentia falta do Ozzo que já não existia mais há mais de cinco anos. Ozzo era o seu bar, cerveja barata e música alta.

O bar estava cheio, muito cheio, queriam sentar, não tinha mesa vaga.

- Pra quem eu tenho que dar pra conseguir uma mesa? – ele perguntou para um garçom que passava apressado apontando para um gorila enorme que tinha uma lista de nomes na mão, se aproximou do sujeito – Vitor Scaglia.

- Está demorando quando tempo? – perguntou a namorada, Beatriz. Era uma boa garota.

- Ah – disse ele com ar pensativo – está demorando viu...

“Fodeu”, pensou Vitor, fez uma cara de vamos embora daqui, mas Beatriz fez a cara de quero comer aquela torta de frango que só tem aqui, eles ficaram esperando, pediram uma cerveja e ficaram ali tomando em pé mesmo.

Olharam para as mesas, não parecia que alguém ia embora muito cedo, o negócio ia demorar, o lance era ficar bêbado e não praguejar sobre ficar em pé, porém as garrafas eram caras, havia perdido o costume de beber em bares, tomava cerveja em casa, comprava no mercado que ficava muito mais em conta, pensou sobre isso e se sentiu velho. Olhou para Beatriz, estava sorrindo, estava realmente se divertindo ali, só com ele, então ele sorriu e ficou mais a vontade, era realmente uma boa garota.

Pensou em Marcel, casado, com um filho que chamava Marcos, pensou que tipo de pessoa colocaria o nome do filho de Marcos, não fazia o menor sentido. Jorge ainda solteiro, mas jamais sairia em uma noite de quinta feira tendo que trabalhar no dia seguinte, era correto demais com o trabalho, não encararia o chefe de ressaca. Parecia que apenas ele havia sobrevivido levando o velho estilo de vida adiante, o lema era: foda-se o dia seguinte e vamos beber, mas quem podia culpar os amigos? Eles que estavam corretos, Vitor Scaglia era o pior exemplo quando o assunto era estilo de vida.

Beatriz era quem botava juízo na cabeça dele agora, não bebia até cair por aí ou vomitar até não poder mais, bebia bastante, dizer que parou de dar vexame seria uma mentira, mas não era mais um hábito.

- Olha aquele casal – disse ela apontando para um casal, o homem estava se levantando da mesa.

- Será que eles vão embora?

- Nem fodendo, é a terceira vez que ele levanta nos vinte minutos que a gente está aqui – ele passou correndo e foi ao banheiro – ou tem incontinência urinária ou está com uma caganeira.

- Coitado – disse Vitor, lembrando do banheiro nojento daquele lugar.

- Coitado daquele rapaz ali – disse ela apontando para um rapaz em uma mesa, ele tentava dar uns malhos na menina, mas aparentava ser o cara mais tímido do planeta, tentava colocar a mão em cima da mão dela, mas não tinha coragem, ficava vermelho, a testa brilhando de suor e a menina com uma cara de quem diz “Pelo amor de Deus meu filho, aperta a minha bunda logo porque eu não agüento mais esse lenga-lenga!”. Vitor e Beatriz riram dele, riram muito e só então perceberam que havia mais três mulheres na mesa, e pensaram “que tipo de sádica leva um cara pra um encontro com três amigas?” Aquela era uma mulher maquiavélica.

Havia uma mesa onde três nerds estavam com uma amiga descolada, provavelmente ela estava ali porque eles iam pagar a cerveja e falar para os outros amigos que conseguiram levá-la pra tomar umas, a mulher divagava, olhava pra cima, arranhava o rótulo da cerveja com a unha enquanto os moleques falavam sobre os conceitos do sabre de luz do mestre Mace Windu, que é diferente do conceito dos sabres de luz dos outros jedis.

Quando vagou uma mesa duas garotas vieram perguntar ao gorila se era a vez delas sentarem, mas ele chamou um grupo de três amigos e ela disse:

- Tem certeza que não é a gente?

- Se vocês quiserem sentar com a gente – disse um dos amigos que iam sentar, eram uns caras bem mais velhos e elas ficaram meio sem graça – sério mesmo, seria um prazer que vocês sentassem com a gente.

Vitor e Beatriz riram alto da cara das meninas que estavam sem graça da cantada barata que acabaram de levar.

A menina que fazia par com o cara que não parava de ir ao banheiro se levantou e foi usar o banheiro da doceria que ficava ao lado do bar na maior cara de pau, quando voltou várias pessoas do bar haviam observado o mico dela e ela ficou sem graça, eles foram embora logo depois. Foi com esta situação, depois de quase duas horas, que Vitor e Beatriz conseguiram uma mesa, quando sentaram pediram uma torta de frango, mais cerveja, mais torta de frango, mais cerveja, mais torta de frango e mais cerveja, acho que se empolgaram porque estavam enfim sentados, gastaram mais do que podiam, pelo menos a conta veio errada e pagaram menos.

Não se divertiam assim faz tempo.

Gustavo Campello

2 comentários:

  1. esse Scaglia hen... muito do observador!

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  2. No texto vc usa uma linguagem despojada, coloquial (gorila, dar uns malhos...), provavelmente influenciado pelo proprio personagem, Vitor. Mas ao mesmo tempo usa também um linguagem muito formal (nos tempos verbai etc...) talvez para que vc, o narrador em terceira pessoa se distancie do personagem. Só que isso deixa o texto estranho, o que poderia ter muita personalidade e fluidez fica truncado. Eu acho que vc deve deixar a influencia (coloquial e tosca) do Vitor vir, tomando cuidado somente para não ficar em primeira pessoa. Já que ele é o assunto do texto é coerente e natural que o "estilo" dele tomem conta do texto.
    Ademais, muito bacana essa tal de Beatriz! Lindo nome!

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