Vitor
Scaglia estava sentado no sofá ao lado do seu sobrinho tentando escrever sua
primeira crônica, mas o pirralho ficava mudando o título. Então resolveu deixar
do jeito que estava.
“O meu tio só pensa em ler
livros. Ele compra uns dez mil de uma vez e lê em um dia todos de uma vez.” O
garoto pensa.
Ah, como ele gostaria de fazer
isso. Não tinha um tostão furado pra comprar livros atualmente, não tinha onde
cair morto, estava pobre e todas as lâmpadas da sua casa tinham queimado de uma
vez por causa de alguma fiação estragada. O moleque havia colocado o título
para provocá-lo, mas o achava o máximo.
Vitor era um cara esquisito, pelo
menos com o parâmetro que o garoto tinha, barbudo, desleixado, roupas
esquisitas que eram moda nos anos 90, cabelo desgrenhado e sem corte, muito
diferente do resto da família, e tinha um emprego engraçado, era escritor. Como
assim era escritor? Havia ido em dois lançamentos de livros que continham um
conto seu em antologias, mas não conseguia entender como o tio conseguia ganhar
dinheiro com isso.
Simples, ele não ganhava dinheiro
com isso.
Como ele sobrevivia?
Simples, ele não se preocupava
com isso.
Vitor, o cara mais estranho da
família Scaglia, todos gostavam dele, mas tinham medo de como ele iria aparecer
em alguma festa, como estaria vestido? Iria vomitar na porta da igreja, bêbado,
como fizera no casamento da tia? Tinham medo com certeza do que ele podia
aprontar.
Então pra ele era simples, não
aparecia em quase nenhuma festa, sentiam falta de sua presença, mas quando
apareceu no casamento da prima, no ano passado, todos logo pensaram que ele
poderia ter faltado, ficara bêbado, óbvio, e logo se pôs a falar sobre as irmãs
gêmeas gostosas do noivo e de como as imaginara se agarrando no corredor da
igreja quando entraram como damas de honra, as pernas se enroscando, uma
beijando o pescoço da outra.
QUE TESÃO!
Todos se entreolhavam e
perguntavam que porra de pensamento era aquele, elas eram irmãs, mas lógico que
o primo comedido com pose de santo pensou na coisa toda olhando para as gêmeas
achando que tudo era uma boa idéia.
Mas pelo menos era um herói para
o sobrinho, que ainda estava sentado ao seu lado no sofá enquanto o tio ouvia
aquela banda esquisita tocando no laptop, Little Quail and The Mad Birds, até as
músicas que ele ouvia eram diferentes.
Pensou que quando crescesse
poderia se tornar igual ao tio... Mais uma criança estava salva neste mundo.
Gustavo Campello
primeira crônica de primeira !
ResponderExcluirGostei da crônica bem atrativa.
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