E se você
pudesse pegar um microscópio e olhar as células de Bram?
Você veria
que cada célula é um ser vivo completamente independente e tem sua vida
própria, elas dançam, elas cantam e elas vivem suas vidas exatamente como Bram
ou seus amigos. As células são seres vivos com seus sonhos e pretensões
salariais, sem ter a mínima consciência de que fazem parte do corpo de Bram.
Há uma
célula do seu joelho que reza toda noite para que consiga cantar como aquela
vagabunda da outra célula, que faz parte do seu pescoço e roubou seu namorado.
Dyoníza,
aquela célula simpática que todos adoram amar, vive em seu ritmo frenético pra
conquistar likes naquela rede social que está bombando no mundo microscópio do
corpo de Bram. Ela posta várias fotos das baladas, dança melhor do que qualquer
outra célula, mantém a forma indo na academia todos os dias e adora um sexo
casual.
Bram bebe
uma cerveja com sua namorada Imala naquele momento em que Dyoníza aproveita a
night com aquele som eletrônico pesado na pista de dança.
- E se a
gente for células de um ser superior? – pergunta Bram depois de beber seu
décimo e segundo copo de cerveja.
- Que porra
tu tá falando?
- Tipo
assim, eu e você sermos partes vivas de um mesmo ser, se eu te machucar, na
verdade estou me machucando.
Imala não
estava em condições de acompanhar os pensamentos do namorado e apenas levantou
a sobrancelha.
O último
gole de cerveja desceu aliviando.
- Que
diferença faz se uma célula nossa deixar de existir? – Bram tentava formular
algo com base no mundo do Edifício onde a morte não existia, mas tudo era
confuso em sua mente.
- Eu acho
que é melhor parar com a cerveja por hoje – disse Imala de bom humor, aproximou
o rosto de Bram e lhe deu um beijo, com a unha deu um beliscão em sua bochecha.
Beliscão
fatídico, enquanto Dyoníza dançava loucamente na última festa de sua
existência, foi esmagada e deixou de existir no mesmo instante por culpa de
Imala. Bram deu um último gole antes de ir pra casa, nunca em toda a sua
existência Dyoníza fez alguma diferença para ele.
Gustavo Campello