Era 16 de Maio de 2000
e o Superchunk voltava para São Paulo. Desta vez Jorge e Marcel decidiram ir
junto com Vitor ver a banda da Carolina do Sul.
Foram até São Paulo e
combinaram que iriam dormir na casa da tia de Vitor, que havia convidado à
todos, insistindo até em buscá-los quando o show terminasse. Foram até a Via
Funchal e combinaram para que ela fossem buscá-los por volta da 1h30min da
manhã. Ninguém tinha celular naquela época, então era bom combinar um horário
antes.
Chegando lá resolveram
comer um cachorro quente e tomar uma cerveja, que fora da casa de shows era bem
mais barata. Conversaram sobre música, filmes e quadrinhos, que era sempre o
assunto em pauta. A banda Caixa Materna de Vítor e Marcel já não existia mais e
todos estavam pensando na faculdade.
Quando foram entrar, os
seguranças barraram um grupo de quatro pessoas, que estavam tentando entrar sem
o ingresso logo na frente deles. Houve um tumulto e foi-se então que perceberam
que os quatro encrenqueiros eram na verdade a banda. O Superchunk estava
comendo cachorro quente do lado de fora e ninguém nem tinha percebido. Vitor
distribuiu uma capa de cada álbum para cada um deles, no caso de conseguirem um
autógrafo. Jorge ficou com a capa do Here’s
Where The Strings Come In, Marcel ficou com a capa do Come Pick Me Up e Vítor ficou com a capa do Indoor Living.
O show foi em outra
área da casa de shows, em um palco menor do que da outra vez. O show não foi
tão bom quanto o primeiro, parecia que o pessoal estava mais comportado, mas
ainda assim foi um puta show. Uma garota deu um mosh na galera enquanto o
Superchunk tocava:
yeah, yeah - Yeah, it's beautiful here too
yeah, yeah - Why am I telling you?
yeah, yeah - Yeah, it's beautiful here too
yeah, yeah - Why am I telling you?
Last year last night
I'm tired let's fight
yeah, yeah - Why am I telling you?
yeah, yeah - Yeah, it's beautiful here too
yeah, yeah - Why am I telling you?
Last year last night
I'm tired let's fight
Já não sabia onde
estava Jorge e Marcel. Vitor estava perto do palco e era um aperto só. Laura Balance ainda estava linda como se lembrava,
tocando seu baixo freneticamente.
Quando o show acabou,
Vitor viu que era 1h50min da manhã, estava 20 minutos atrasado de encontrarem
seus tios do lado de fora. Não viu seus amigos, foi lá pra fora e viu sua tinha
falando com Marcel, quando chegou perto pode ouvi-la:
- Porque você não vai
procurar por eles, então? – ela estava alterada – Vai ficar aqui parado?
Marcel parecia nem dar
bola, Vitor ficou envergonhado de ver sua tia tratando mal seu amigo.
- Aí está você – disse
ela percebendo Vitor se aproximando – Cadê seu outro amigo? Estou esperando
aqui faz meia hora!
- Oi? – Vitor não
estava entendendo nada, quem se ofereceu para pegá-los foi ela, podiam muito
bem pegar um táxi e passar a noite na paulista sem nenhum stress.
Jorge chegou logo
depois todo feliz porque havia conseguido pegar um autógrafo da Laura Balance no encarte que Vitor havia deixado com
ele.
- Pronto. – Vitor
estava puto com sua tia – Agora todo mundo tá aqui!
Entraram no carro e
foram embora.
- Seu olho tá estranho
– disse sua tia virando pra trás e falando com Jorge – O que você tomou? Você
tá bem? Tá drogado?
- Hein? – Jorge ainda
não tinha sacado que ela estava puta por ter que ir buscá-los. De todas as
pessoas que ela podia ter acusado de ter usado drogas, Jorge era o mais
improvável naquele carro (contando com seus tios inclusive). Marcel e Vitor já
tinham experimentado sua cota, mas Jorge era o mais certinho.
- Você está estranho –
disse ela – tomou o que? Usou o que?
- Mas que porra... –
falou Vitor.
- Hein? – Jorge ainda
não entendia nada.
- Ai caralho – Marcel
olhava pro teto inconformado.
Chegaram à casa dela
com um climão chato, ela havia conseguido estragar a vibe do show. Foram dormir
e Vitor pediu desculpas pelo que havia acontecido. Saíram bem de manhãzinha no
dia seguinte pra não ter que trombar com ninguém. Pegaram o ônibus e voltaram
pra cidade onde moravam. Vitor nunca mais foi pra casa de sua tia, até hoje (12
anos depois) só a encontra em festas de família, mas muito raramente, pois não
é o tipo de festa que Vitor prioriza.
Gustavo Campello
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