A palavra do
Deus-Fungo foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes termos: “Levanta-te,
vai ao 9376º andar, no setor da promiscuidade, e profere contra ela os teus
oráculos, porque sua iniqüidade chegou até a minha presença.”
Jonas pôs-se
a caminho, mas na direção da porta que leva para baixo, para fugir do
Deus-Fungo. Desceu ao subterrâneo, onde encontrou um trem que partia para o
Mundo Posterior; pagou a passagem e embarcou nele para ir com os demais
passageiros para o Mundo Posterior, longe da face do Deus-Fungo.
O
Deus-Fungo, porém, fez vir sobre os trilhos uma onda de choque impetuosa e
levantou no trilho uma eletricidade tão grande que a locomotiva ameaçava
despedaçar-se. Aterrorizados, os viajantes puseram a invocar cada qual o seu
deus, e atiraram nos trilhos a carga do trem para aliviarem-no. Entretanto,
Jonas tinha ido até o último vagão do trem e, deitando-se ali, dormia
profundamente. Veio o maquinista e o despertou: “Eles vão dividir o seu belo
crânio, e preenchê-lo cheio de ar. E dizer que você está nos anos oitenta, mas
irmão, não se preocupe. Você será atirado sobre qualquer coisa, sobre o nunca
do amanhã.”
Em seguida
disseram os viajantes entre si: “Vinde e tiremos à sorte para sabermos quem é a
causa deste mal”. Lançaram à sorte e esta caiu sobre Jonas. E perguntaram-lhe:
“Tu, por quem nos acontecem estes males, diga-nos qual é a tua profissão? De
onde vens? A que país e a que raça pertences?” – “Sou do 7432º andar” respondeu
ele “Adoro o Deus-Fungo, Senhor dos concretos, que criou o Edifício e todos os
andares.”
Ficaram
então aqueles homens possuídos de grande temor, e disseram-lhe: “Por que
fizeste isto?” Pois tinham compreendido, pela própria declaração de Jonas, que
este fugia para escapar à ordem do Deus-Fungo. E disseram-lhe: “Que te havemos
de fazer para que os trilhos se acalmem em torno de nós?” Porque os trilhos
tornavam-se cada vez mais ameaçadores. “Tomai-me” disse Jonas “e lançai-me às
rodas de aço, e os trilhos se acalmarão. Reconheço que sou eu a causa desta
terrível tempestade que vos sobreveio.”
Os homens
tentavam ver para onde se dirigiam, mas em vão, porque os trilhos se retorciam
e davam voltas que antes não existiam. Então invocaram ao Deus-Fungo:
“Deus-Fungo”, disseram eles, “não nos façais perecer por causa da vida deste
homem, nem nos torneis responsáveis pela vida deste homem que não nos fez mal
algum. Vós, ó Deus-Fungo, faz como for do vosso agrado.” E, pegando em Jonas,
lançaram-no às faíscas, e a fúria dos trilhos se acalmou. Tomada de profundo
sentimento de temor para com o Deus-Fungo, os viajantes ofereceram-lhe um
sacrifício, acompanhado das canções do maquinista.
Gustavo
Campello