Dedicado ao amigo Delfin
Era sábado, 10:15 da noite, o
bar Enxame estava cheio de gente para assistir ao show da banda Formigas de
Mercúrio. Eu estava sentado ao fundo, era a centésima quinta vez que eu ia
escutar os caras, eles eram bons, mas já estava enjoando, todo sábado a noite
era a mesma coisa. O mundo estava enlouquecendo, eu via e não via, sentia
cogumelos em cima de cabeças vazias, tentáculos retorcendo dentro dos cérebros
se alimentando de pensamentos, controlando, espreitando, invadindo...
A banda entra no palco,
ninguém liga muito, todos estão querendo apenas uma bebida gelada, indo e
voltando de seus trabalhos sem imaginar o real motivo de suas vidas parecerem
tão patéticas, sem sequer se indagarem sobre isto. Diria que mais de metade do bar
está infectada, sinto o cheiro, ouço os tentáculos, é quase como se pudesse
enxergar seus espectros acima dos corpos desfalecidos que não reagem mais a
nenhum estimulo.
Quando eles começam é quase
como se a música fosse hipnótica, todas as pessoas no recinto saem de um estado
de transe e começam a agir naturalmente, pulam, brigam, conversam, namoram e
por uma hora e meia suas vidas valem a pena.
Ele
vivia num plano
E
passou pra outro plano
Ele
fugia do destino
E
ele era pequeno
No
porão amigável
Surgia
um cenário afável
Eles
não tinham dentes
Eles
eram doentes
Robôs
em miniaturas
Mecanizados
pela altura
Controlavam
uma mente
De
um cara que era doente
E
vivia com uma garota
Bêbada
da gota
Que
amava o controlado
E
descem no telhado ao contrário
Encontrando
nos anos 80
O
metrô que era retro
O
convite do Bowie aceito
Pois
o passado era seu direito
Os Formigas de Mercúrio são
ovacionados, tudo mecanizado. É assim todo sábado. Esta é a música Duendes
Mecânicos, o maior sucesso deles, esta foi a primeira vez que encerram um show
com ela. Alguma coisa está prestes a mudar.
Gustavo Campello (Texto)
Delfin (Canção)