Vitor
pediu demissão do emprego, não servia mais para aquilo! Não servia mais para
lugar nenhum. Estava cansado de ser cobrado por pessoas que faziam tudo errado,
de ter que ser todo sorrisos praquele idiota que se acha um coitado só porque
anda de cadeira de rodas, porém ninguém suporta ter que conversar com ele,
porque chato é chato, seja com os dois pés ou com nenhum. Mandou o chefe ir
tomar no cu, aquele ladrão safado, embolsa as doações de entidades para o clube
para ter sua enorme chácara e um belo apartamento de praia com sacada e vista
para o mar. Todo mundo sabe disso, mas todo mundo precisa do emprego.
- Vai
tomar no cu! – disse Vitor, o chefe que não estava acostumado a ouvir isso de
nenhum funcionário ficou sem reação, Vitor bateu a porta e foi embora.
Ia sentir
saudades de algumas pessoas, mas depois de alguns meses descobriu que algumas
pessoas nem sentiram a sua e ficou por isto mesmo. “Engraçado como tem pessoas
que a gente acha que vai levar pro resto da vida e simplesmente não fazem questão
da sua presença. Outras que nem damos bola estão sempre ali e acabamos levando
pro resto da vida e acabam sendo mais importantes” pensou entornando um copo de
cerveja uns meses depois. Estava sem emprego de novo, sem namorada, sem
expectativas, com muita pouca grana e vivendo no mesmo apartamento apertado de
sempre.
Foi no
supermercado comprar cerveja e salsichas para fazer cachorro quente, a refeição
do homem macho e desempregado. Saindo olhou um cachorro preto com cara de dó,
parecia sozinho, abandonado e sem expectativas de vida, era quase a contraparte
animal de Vitor, ele lhe deu uma salsicha, o cachorro agradeceu e Vitor
continuou indo para sua casa. Quando chegou viu que o cachorro estava seguindo
ele, quase que suplicando por outra salsicha, estava magricela, dava pra ver
suas costelas, Vitor ameaçou chutar o cachorro pra ele ir embora, mas não
surtiu efeito, o animal achou que ele estava brincando e logo abanou o rabo.
Vitor
ignorou o bicho, continuou seu caminho, chegou no apartamento e fechou a porta
na cara do seu incômodo acompanhante, olhou a cara de dó e disse.
- Pro
inferno uma coisa dessas! – abriu a porta e deixou-o entrar – Acho que vamos
ter que estabelecer novas regras aqui Sam.
Sam olhou
pro dono estranhando o novo nome.
- Estou
duro, vamos ter que dividir a droga dos cachorros quentes... – Vitor olhou pra
carinha dele – Pro Inferno com isto... preciso emagrecer mesmo!
Sam comeu
todas as salsichas aquele dia e Vitor ficou com as cervejas, eles iam ter que
aprender a viver juntos agora, dividir seus espaços, Vitor teria que limpar
suas merdas e Sam teria que limpar os seus vômitos, mas o que importava é que a
partir de agora nenhum deles estava mais sozinho.
Gustavo
Campello
Algo me soa familiar!!!!
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