A irmã
mais nova de Vitor ia se casar hoje, ele havia decidido não comparecer, não se
dava muito bem com ela e se dava muito menos com um primo que iria estar lá, ia
acabar dando bosta. Queria evitar confusão. Desejava tudo de bom para ela,
apesar de todos os problemas do passado.
Pensou em
como seus pais estavam feliz, em como essas coisas de ter filhos, casar, passar
em um concurso público, trabalhar, ter carro, roupas novas e seguir um certo
padrão da sociedade enchiam eles de orgulho. Vitor jamais teria isso, nunca
iria saber o que era transmitir este sentimento de orgulho para os outros e não
entendia porque se sentia tão mal quanto a isso. Ele havia escolhido como seria
sua vida, tinha decidido por si só que caminho seguir e estava aguentando as consequências
nas costas já fazia muito tempo.
A visão
que as pessoas tinham dele é que sua vida era muito boa, cercado de bebidas e
com alguns poucos amigos aparecendo na sua casa de vez em quando. Ele não bebia
porque a vida era fácil, era exatamente o contrário, ele bebia porque a vida
era uma puta de uma filha da puta e beber era a única coisa que fazia com que
ela ficasse o mínimo suportável.
Não
esperava que ninguém o entendesse mais, só esperava que o deixassem quieto no
seu canto, ignorassem sua existência. Sentia como se estivesse involuindo, se
transformando em alguma espécie de animal, gostava se sair caminhando pela
chuva forte e grunhindo como se fosse um lobo ou um coiote. Sentir a chuva
batendo no seu corpo, a noite envolta dificultando a visão, a postura curvada e
os cabelos e a barba longa molhados, sentia vontade de gritar e até de atacar
alguém qualquer.
Talvez
fosse esta sua sina, se afastar cada vez mais da humanidade, ver aqueles seres
tão diferentes dele ao longe, como um animal assustado na beira da estrada
olhando os carros. Vitor se sentia feliz com quem ele é, com quem ele escolheu
ser, mas ao mesmo tempo se sentia triste porque ninguém conseguia olhar para
ele e enxergá-lo, ninguém jamais conseguiria compreendê-lo e estaria então
sozinho para o resto da vida.
Vitor
podia viver com isto.
Vitor
podia viver com quase tudo, pois ele é forte como um lobo, poderia sobreviver
em qualquer lugar sob qualquer situação... Se quisesse.
Gustavo
Campello