Vitor estava na casa de seus pais mais uma vez, lembrou-se que foi
exatamente ali que começou a escrever seu blog quando não tinha nada melhor pra
fazer, com seu sobrinho ao seu lado lhe importunando e algo de podre passando
na televisão.
Pensou em tudo o que havia mudado desde então, em como tudo estava
tão diferente e de cabeça pra baixo nos dias de hoje em comparação com aquela
época.
Ontem o monitor do seu computador havia quebrado, pegou o seu taco
de baseball e foi quebrar o maldito como era de praxe. Sempre que algo
quebrava, Vitor pegava aquele taco e terminava de arrebentar o objeto, aliviava
a tensão, relaxava. Lembrou-se de quando jogava baseball com seu primo Giorgio,
que estava morto agora, no quintal enorme da sua casa quando era criança. Lembrou-se
de quando seus pais mudaram de casa, aqueles corredores enormes vazios, ele e
Walter arremessando fitas VHS velhas e rebatendo com o taco. Mas hoje tudo foi
diferente, seu taco perdeu sua primeira batalha, foi de encontro ao vidro
grosso de um monitor velho que ele conheceu seu derradeiro fim, sua morte. O
taco quebrou-se em dois, Vitor chorou, olhou para o seu antigo companheiro e
percebeu que aconteceu a mesma coisa com seus sonhos, com sua vida, quebrada em
dois, estilhaçada com farpas de madeiras por todos os lados.
Em uma tarde de domingo ele e o primo ficaram no terreno vizinho
desmatando uma selva, imitando Indiana Jones, tudo para achar uma bola que foi
perdida por lá. Lembrou-se de que no passado tinha o sonho de jogar na MLB, mas
quando amadureceu percebeu que vivia no país do futebol e isso nunca ia
acontecer. “Nasceu no país errado” diziam para ele até que um dia ele
acreditou. Acompanhava todos os anos o campeonato americano, mesmo que seu time
tenha ganhado o campeonato pela última vez em 1998. “Go Tribe” gritava ele
vibrando sempre acreditando no seu time até o final.
Vitor queria escrever um bom epitáfio para o taco, mas não
conseguia pensar em nada, não bebia nada há 96 horas e apagava tudo o que
digitava com a mesma intensidade que seus lábios ficavam secos.
Amanhã iria comprar outro monitor, colar o taco com cola de
madeira, mesmo sabendo que ele nunca mais seria usado para estraçalhar outra
coisa, mas ainda ficaria ao seu lado, mesmo quebrado, mesmo partido e errado
como estava. Afinal era o seu taco, seu companheiro de jogos, de quebrar
coisas, não era porque estava inválido que ele iria abandoná-lo agora.
"Deus, como amava aquele taco".
Gustavo Campello