Uma
idiota do serviço disse que Vitor não podia ter anulado seu voto.
- O
caralho que eu não podia – foi a resposta que ela ouviu.
- Você
não pode deixar as outras pessoas decidirem sobre o seu dinheiro.
Vitor
ficou quieto, não acreditou no que ouviu, estava se lixando para o seu
dinheiro, na verdade quase nem tinha dinheiro. Pensou em como as pessoas eram
idiotas, em como odiava a raça humana e em como esses imbecis não conseguiam
parar de pensar em dinheiro. Na época em que Vitor votava, ia pras urnas
pensando em escolher um candidato que pensasse em melhorar a condição de vida
das pessoas e não em que diabos iria acontecer com o seu dinheiro.
Vitor
olhou para o espelho e se enojou, percebeu que não gostava dos seres humanos e
ponto, não gostava de ser humano, não gostava em como os narizes saíam por
entre os olhos, em como o suor escorriam pela testa e formações ósseas chamadas
de dentes permitiam que ele mastigasse seus alimentos.
Decidiu
que queria que a humanidade fosse a merda, é, definitivamente iria fazer de
tudo pra que ele fosse a merda mais rápido. Foi a partir daí que aposentou os
cestos de lixo da sua casa, jogava tudo pela janela do prédio agora. Garrafas
pets, bandejinhas de lasanhas congeladas, potes vazios de rações de peixe e
afins. Tudo ia embora pela janela a partir de agora.
- Você ta
maluco? – disse Beatriz ao ver ele jogar um pedaço de chaveiro velho na rua
outro dia – ta poluindo a rua!
Vitor fez
uma cara amarrada, pegou aquilo do chão e colocou no bolso, não queria
aporrinhação por esse novo estilo de vida. Em um dia chuvoso escorreu uma
panela de óleo por toda a lateral do prédio e riu dizendo – malditos, morram
todos com a minha poluição!
Essas
coisas duravam pouco, Vitor se sentia um vilão ultra-maquiavélico de alguma
história em quadrinhos, mas esse estilo de vida logo passava, porque faltava
algum super herói pra combatê-lo. Desta vez ele ficou jogando lixo pela janela
durante uns dois meses, no ultimo surto havia demorado o dobro até ele parar.
Quando
resolveu voltar a usar o cesto de lixo, foi até a janela e gritou – O voto é
meu e eu faço o que quiser com ele sua puta! – e pronto, o ódio havia passado.
Gustavo Campello