sexta-feira, 26 de maio de 2017
quarta-feira, 24 de maio de 2017
SOU O QUE NÃO DEVERIA SENTIR
Sinto o que
não deveria ser
Hoje faz
dois meses que te vi pela última vez, precisava escrever algo, mesmo que eu
tenha parado com o blog pra rever algumas coisas sobre mim.
As pessoas
dizem que eu tenho que te esquecer, que você não me merecia e que não vale a
pena sofrer por quem não merece a gente.
Eu não
escolho sofrer, não é algo que eu queria, mas é algo que eu aceitei. Resolvi
sofrer por você, não importa se você já nem se lembra de mim, não importa se
sua mão hoje acaricia o corpo de outro homem e que eu seja uma memória
distante. Eu te amo e não posso simplesmente fingir que esses últimos anos não
aconteceram, é da minha natureza ser como eu sou, sentir como eu sinto e sofrer
como eu sofro. Decidi não tentar mais renegar isso, esse sentimento que me
corrói.
As pessoas
hoje são assim, se desprendem uma das outras, apagam memórias como se apaga um
erro gramatical com uma borracha no colegial. Você já me apagou tantas vezes
durante esses anos todos que sinto raiva de não conseguir fazer o mesmo. Não
quero sentir raiva.
Quero
aceitar o que sinto.
As pessoas
acham que sou idiota.
Não sou
idiota.
Sinto e
enxergo o mundo de maneira diferente da maioria, só isso. Não consigo apagar o
amor que inflamou meu peito durante mais de meia década com a facilidade que
você conseguiu, com a facilidade que a maioria das pessoas conseguem. Não desisto
de quem amo e não acredito que quem ama desista.
Sou o monge
da fábula com o escorpião.
Vou ser
picado a vida inteira.
Não ligo
mais, só quero aceitar quem sou, aceitar o que sinto, aceitar...
Você tentou
fazer com que eu acreditasse que me amava, mas desistiu de mim da maneira mais
simples que poderia, o amor é incondicional, perdoa, segue em frente, faz de
tudo pra continuar vivendo, exatamente como um moribundo sentenciado a
guilhotina se apega a vida. Como sempre fiz. Fui um moribundo condenado a
guilhotina, acreditando que o amor existia, que lutaria e que prevaleceria. Acho
que não preciso provar meu amor, nunca precisei, te perdoei mais do que devia,
segui em frente mais do que aguentava... tão em frente que agora não tenho
forças pra voltar, não guardei fôlego para o caminho de volta.
Solidão.
Solidão por
todos os lados.
Olho pro
lado da cama e sei que você nunca mais vai estar ali, mesmo que ainda te
enxergue todo dia ali ainda.
Sinto-me
culpado por sentir o que sinto, não quero sentir culpa pelos meus sentimentos,
não quero mais ouvir que estou errado por sentir o que sinto, que devo sentir o
que sinto de outro jeito, que devo fazer isso ou aquilo para parar de sentir as
coisas como sinto. O sofrimento não funciona assim, não vai mudar se agir como
as pessoas pensam que devo agir ou como as outras pessoas agem nessas situações.
Não sou o fulano que diz que tem um monte de boceta por aí me esperando, não
sou o cicrano que diz que tenho que me abrir para outra pessoa. Não sou assim.
Simplesmente não sou assim.
Não beijo
uma pessoa que acabei de conhecer.
Não durmo
com alguém por quem não sinto nada.
Não pertenço
à sociedade de hoje.
Não pertenço
a esse mundo que não faz sentido para mim.
Meu mundo é
outro.
Mas meu
mundo não existe mais.
Amor.
Gustavo Campello
Ilustração da artista Sarah Maxwell
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